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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2013

sonho

Sonho por vezes que não tive de abandonar o meu país. Que pude continuar no conforto de quem conhece de cor o meu coração, de quem sorri com empatia a cada um dos meus gestos, de quem sabe baralhar os ingredientes que eu gosto e voltar a dá-los, num prato fumegante e devorável. Sonho que o meu país não é um sítio onde o apelido vale mais do que o mérito, onde se dá mais valor a títulos atrás do nome ou a palavras caras do que a sentimentos verdadeiros, seja a julgar papiros, seja a julgar uma vida. Não existem lugares perfeitos, mas existem alguns com mais escuridão do que o fundo de um poço em dia de lua nova. Sonho que o meu país não se deixou invadir por hordes zombies, sem qualquer pedigree intelectual, mas com a sobranceria de achar que o têm. Imagino (ou será que sonho? Ou que invento?) que estou sentado no muro que guarda a praia, a olhar o horizonte, alheado de todo o barulho atrás de mim (se calhar “absorto em pensamentos” fica mais bonito, mais pomposo, mai

silêncio sem inocentes

ainda bem que não faço promessas sobre a frequência da minha escrita, porque ultimamente anda tão frequente como a passagem do cometa X ou Y perto da terra. e cada vez que me lembro disso aperto o cilício. dava-me tão bem há duas décadas atrás no meu mundinho cheio de leitura e de escrita. isto de brincar aos adultos não tem piada nenhuma. isto de ter de se fazer porque tem de ser em vez de ser porque parece divertido devia ser revisto. aposto que na constituição da república terrestre há qualquer coisa que impede que o mundo nos consuma em vez de sermos nós a consumir o mundo. mas de cada vez que me aparece um destes protestos, em regime de velho marreta, vejo um esquilo passar com uma bolota na boca, olhar para mim assustado, convicto de que lhe quero roubar a bolota. e isso volta a fazer-me sentir o sangue quente a correr pelas veias, os olhos humedecidos de vida e a certeza de que mesmo cheio de pressões o mundo vale a pena a cada virar de esquina.